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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Instituida no Porto a Ordem Terceira da Trindade

A Ordem dos Pregadores (dominicanos) foi fundada em 1206 por S. Domingos de Gusmão e teve a sua Regra (masculina) aprovada em 1216 e a sua Ordem Terceira reconhecida e organizada em 1285.

Presentes os dominicanos em Portugal desde 1217, e no Porto desde 1238, desde essa altura vários leigos se organizaram em volta dos conventos e comunidades de dominicanos, partilhando e vivendo da mesma espiritualidade e contribuindo para sua missão e/ou sustento. De várias localidades no país há relatos disso mesmo (ver História de São Domingos em 2 volumes, por Fr. Luís de Sousa, Editora Lello, 1977).

Pelo século XVII os movimentos laicais na Igreja tem um novo ressurgimento, fruto da maior autonomia, desenvolvimento, poderio económico e cultural das classes mais burguesas e mercantis um pouco por toda a Europa.

No Porto é organizada e instituída oficialmente em 1633 a Venerável Ordem Terceira de S. Francisco, ainda existente nos dias de hoje. «Vendo crescer os seus sucessos», os vizinhos leigos ligados aos dominicanos não se quiseram ficar atrás e em 1671 deram início à Ordem Terceira de São Domingos no Porto, oficializada e reconhecida em 1676 no Convento dos frades dominicanos do Porto.

E tal foi o sucesso e o número de irmãos e irmãs aderentes, que passados alguns anos «consideraram alguns zelosos que a ordem terceira de Nossa Padre São Francisco tinha uma capela muito formosa unida ao convento, na qual se juntavam os Irmãos a ouvir as suas práticas, a frequentar os sacramentos, a fazer suas orações e tomar suas disciplinas; entraram em desejos e fazer uma semelhante capela porque até então tinham à sua conta a capela do Espírito Santo da nossa Igreja e nela exercitavam os seus espirituais exercícios com algum detrimento dos religiosos, e para aliviá-los, aprecia conveniente fazerem nova Capela não só para os seus espirituais exercícios mas para jazigo dos Irmãos que naquela quisessem sepultar-se»..

Resolvida a questão da localização (no adro em frente à Igreja do Convento de S. Domingos por cedência dos frades, a primeira pedra foi lançada em 18 de Dezembro de 1683 e inaugurada a 7 de Janeiro de 1685 e dedicada a Santa Catarina de Sena, também ela terceira dominicana.

Mas foi solução por pouco tempo, pois logo em 1712 e atendendo ao número crescente de membros, decidiram erigir nova e mais larga capela, ocupando parte mais alargada do adro e da rua defronte do convento sendo a primeira pedra lançada a 20 de Fevereiro de 1713 e inaugurada 10 anos depois, aos «onze dias do mês de Abril de 1723» Para fazer face às despesas de construção e porque o altar-mor da capela primitiva não se adequava ao novo templo, foi o mesmo vendido ao «abade de Lamas na comarca da Feira», retábulo que é hoje o único vestígio conhecido da capela dos terceiros dominicanos.

Fosse pelo poderio económico dos leigos, fosse pela necessidade de os frades usarem a capela dos terceiros devido ao estado de ruína da Igreja conventual e falta de «cabedal» para a reerguer, fosse por quezílias muito humanas relativas ao poder, o certo é que desde o final dos anos 30 do século XVIII se instalou uma permanente disputa entre a Ordem Terceira e os seus vizinhos frades.

A origem do conflito deve-se ao facto de os frades terem decidido em 1739 erguer uns arcos sobre o seu adro virado para o actual largo de S. Domingos fazendo ligação directa entre o seu convento e dita igreja dos terceiros, o que este levaram a mal. Todos os meios foram usados de parte a parte: tribunais civis, pedidos ao patriarca de Lisboa, ao Geral da Ordem, embaixadas em Lisboa e Roma, e múltiplas intervenções do bispo, do rei do papa.

Em 14 de Maio de 1755 o Papa Bento XIV finalmente decreta por bula papal a extinção da Ordem Terceira de S. Domingos no Porto e a imediata criação da Arquiconfraria da Ordem da Santíssima Trindade e da Redenção dos Cativos (ainda hoje existente), para onde passariam automaticamente todos os ex-terceiros e respectivos legados e património.

Fonte :PORTO ANTIGO